(

1 de out. de 2023

)

E se eu pudesse respirar?

E se eu pudesse respirar? Como a escrita de mulheres negras pode promover a descolonização do pensamento?

Tamyris Soares

Por que escrevo?

Porque eu tenho de 

Porque minha voz, 

em todos seus dialetos,

tem sido calada por muito tempo.

Jacob Sam-La Rose

Mulheres negras e sua intelectualidade radicalmente coletiva deviam estar presentes respeitavelmente em todo campo da escrita. Tanto a fala ácida quanto a falácia do homem moderno nos enclausuram em um lugar sem voz. Ser mulher já nos degrada como seres humanos nessa sociedade, agora ser mulher e negra nesse sistema que nos silencia por todos os lados é devastador. 

A vida e a intelectualidade separadas, mescladas com o apagamento e a falácia histórica que nos é passada de geração em geração, nos faz acreditar que não podemos escrever a nossa própria história. O homem branco que se crê universalista coloca em pauta pesquisas científicas negras com a argumentação de que é uma história pessoal, um livro de autoajuda, ou coisas tais, como se a escrita branca não partisse de sujeito algum. Somos radicais, pois acreditamos que a raiz do sistema capitalista vem de um lugar de negação de que pessoas foram esquartejadas em pelourinhos e até hoje vemos nosso povo sendo massacrado por oficiais do Estado.

“Encontrei um lugar onde eu podia imaginar futuros possíveis, um lugar onde eu podia ser diferente. Essa experiência “vivida” de pensamento crítico, de reflexão e análise se tornou um lugar onde eu trabalhava para explicar a mágoa e fazê-la ir embora. Fundamentalmente, essa experiência me ensinou que a teoria pode ser um lugar de cura.” (bell hooks, Ensinando a transgredir,WMF, 2013). 

Quando pequena, eu tinha um mundo só meu, e dentro dele eu podia ser a protagonista, e podia fazer daquele mundo um lugar bonito, longe das violências que uma menina negra na periferia em São Paulo dos anos 1990 podia passar. A minha maior fuga da realidade cruel do gueto e da marginalidade para onde o sistema me empurrou, foi a escrita. Minha fala sempre foi questionadora. 

Luto por um lugar de liberdade de versos, de escrita, de voz. Assim como nossas ancestrais, não devemos nos calar diante das opressões que nos assombram, principalmente em um país que mascara nossas dores, com a falsa igualdade racial, que é pregada descaradamente.

A libertação da mente vem através do reconhecimento, da reimaginação de um novo mundo onde as histórias que foram ocultadas cheguem à tona, onde a brutalidade policial indiscriminada contra a comunidade negra seja cessada, o lugar onde a luta em prol da liberdade seja organizada coletivamente através da base da pirâmide capitalista que mesmo com o apagamento da história sabemos qual é. 

Nós, negras no Brasil, não temos o conhecimento das nossas reais origens. Os documentos com essas informações foram queimados em 1890, a mando de Rui Barbosa, criminoso ministro da fazenda no pós Lei Áurea. Precisamos reescrever nossa história, não deixar que eles contem a versão deles, em seus tronos de colonizadores. Nós somos nossas próprias heroínas, escritoras e contadoras de nossas histórias, sempre lembrando do passado a fim de entender o presente. A fala das não ouvidas pode ser subvertida através da literatura, das poesias de rua, do grito insistente que muitas vezes foram engolidos através da violência contra a mulher, relacionada ao racismo

“(...) Porém, são precisamente essas vozes que são silenciadas, reprimidas, quando somos dominadas. É essa voz coletiva que lutamos para recuperar. Dominação e colonização tentam destruir nossa capacidade de conhecer o eu, de saber quem somos. Nos opomos a essa violação, a essa desumanização, quando buscamos a auto recuperação, quando trabalhamos para reunir os fragmentos do ser, para recuperar a nossa história. Esse processo de auto recuperação permite que nos vejamos como se fosse a primeira vez, pois nosso campo de visão não é mais configurado ou determinado somente pela condição de dominação.” (bell hooks, Educação para Liberdade, 1994).

Nossas ancestrais não se calaram, foram submetidas a um sistema de subserviência que as silenciavam, e da mesma forma gritaram tão alto a história do racismo no Brasil. No mundo, elas relatam a visão distorcida do colonizador, que nos pinta com um olhar de cima para baixo, a história contada por eles fala pouco sobre as que não abaixaram as cabeças, as que revolucionaram e seguem revolucionando esse sistema desde a base. 

Somos Anastácias livres, acreditamos que mil ditadores com suas máscaras de flandres não taparão a boca do genocídio, do estupro, da separação de mães dos seus filhos, dos assassinatos em pelourinhos e o insistente genocídio contra jovens negros nas periferias, lugar de resistência de gritos insistentes em guetos e vielas, escrevemos, recitamos, nos expressamos, nos cuidamos, pois o sistema nos colocou em lugares afastados que nos fez grito e luta.

Apesar de não sermos socializadas na base do silêncio, não significa que nossas vozes serão ouvidas, pois o homem branco é aquele que tem o direito de nascença à fala, e isso exclui os outros de sua raça, a mulher branca, a pessoa LGBTQIAP+ branca. A mulher negra, sendo a base, estará sempre excluída para o lugar do silêncio; nos silenciam quando dizem que estamos nos vitimizando quando denunciamos o racismo velado, somos caladas quando dizem que o que escrevemos não é lido como uma teoria científica, mas como um relato pessoal por aquele que ocupa o topo da cadeia alimentar, que se sente universalista.

Aquilo que produzimos parte de nossas vivências. Acredito que a mulher negra, com seu dialeto de muita história que é sempre apagada, calada, silenciada de alguma forma (através do medo de falarmos o que o homem branco não quer ouvir), pode subverter os sistemas de opressão contando sua própria história, escrevendo o vivido a partir de uma visão do dentro, estamos cansadas de ser objeto de estudos; somos o dedo na ferida dos que nos querem em silêncio, submissas.

Por muitas vezes nos sentimos silenciadas, que nossas vozes são ou não ouvidas de forma equivocada, através de mitos, através de apagamento histórico de nossas lutas, porém a oralidade fez e faz parte de uma cultura que não será esquecida em nossas vivências em nossa luta, o mito da mulher barraqueira, o mito da submissão de nossas vozes, o mito do vitimismo que percorre nossos dias, através de uma ideia dominante de apagamento das nossas dores latentes

Através da representatividade de histórias reais como se faz presente no pensamento de bell hooks, que escreveu corajosamente suas experiências pessoais em seus livros, nos faz pensar em nossas próprias histórias, de meninas e mulheres negras. A história de intelectuais como hooks nos faz ver que a história da humanidade transpassa a todo momento por nossa própria história de luta; muros foram criados para manter alguém fora, e pensadoras que derrubam esse muro, que se revoltam com a vida em que nasceram, vão de contra ao imposto, ao estabelecido, nos motiva a colocar nossa própria história pra fora dos muros que nos aprisionam.

mais ensaios

Descubra Sobre Possíveis mundos Pós-Capitalistas

(

1 de out. de 2023

)

E se eu pudesse respirar?

E se eu pudesse respirar? Como a escrita de mulheres negras pode promover a descolonização do pensamento?

Tamyris Soares

Por que escrevo?

Porque eu tenho de 

Porque minha voz, 

em todos seus dialetos,

tem sido calada por muito tempo.

Jacob Sam-La Rose

Mulheres negras e sua intelectualidade radicalmente coletiva deviam estar presentes respeitavelmente em todo campo da escrita. Tanto a fala ácida quanto a falácia do homem moderno nos enclausuram em um lugar sem voz. Ser mulher já nos degrada como seres humanos nessa sociedade, agora ser mulher e negra nesse sistema que nos silencia por todos os lados é devastador. 

A vida e a intelectualidade separadas, mescladas com o apagamento e a falácia histórica que nos é passada de geração em geração, nos faz acreditar que não podemos escrever a nossa própria história. O homem branco que se crê universalista coloca em pauta pesquisas científicas negras com a argumentação de que é uma história pessoal, um livro de autoajuda, ou coisas tais, como se a escrita branca não partisse de sujeito algum. Somos radicais, pois acreditamos que a raiz do sistema capitalista vem de um lugar de negação de que pessoas foram esquartejadas em pelourinhos e até hoje vemos nosso povo sendo massacrado por oficiais do Estado.

“Encontrei um lugar onde eu podia imaginar futuros possíveis, um lugar onde eu podia ser diferente. Essa experiência “vivida” de pensamento crítico, de reflexão e análise se tornou um lugar onde eu trabalhava para explicar a mágoa e fazê-la ir embora. Fundamentalmente, essa experiência me ensinou que a teoria pode ser um lugar de cura.” (bell hooks, Ensinando a transgredir,WMF, 2013). 

Quando pequena, eu tinha um mundo só meu, e dentro dele eu podia ser a protagonista, e podia fazer daquele mundo um lugar bonito, longe das violências que uma menina negra na periferia em São Paulo dos anos 1990 podia passar. A minha maior fuga da realidade cruel do gueto e da marginalidade para onde o sistema me empurrou, foi a escrita. Minha fala sempre foi questionadora. 

Luto por um lugar de liberdade de versos, de escrita, de voz. Assim como nossas ancestrais, não devemos nos calar diante das opressões que nos assombram, principalmente em um país que mascara nossas dores, com a falsa igualdade racial, que é pregada descaradamente.

A libertação da mente vem através do reconhecimento, da reimaginação de um novo mundo onde as histórias que foram ocultadas cheguem à tona, onde a brutalidade policial indiscriminada contra a comunidade negra seja cessada, o lugar onde a luta em prol da liberdade seja organizada coletivamente através da base da pirâmide capitalista que mesmo com o apagamento da história sabemos qual é. 

Nós, negras no Brasil, não temos o conhecimento das nossas reais origens. Os documentos com essas informações foram queimados em 1890, a mando de Rui Barbosa, criminoso ministro da fazenda no pós Lei Áurea. Precisamos reescrever nossa história, não deixar que eles contem a versão deles, em seus tronos de colonizadores. Nós somos nossas próprias heroínas, escritoras e contadoras de nossas histórias, sempre lembrando do passado a fim de entender o presente. A fala das não ouvidas pode ser subvertida através da literatura, das poesias de rua, do grito insistente que muitas vezes foram engolidos através da violência contra a mulher, relacionada ao racismo

“(...) Porém, são precisamente essas vozes que são silenciadas, reprimidas, quando somos dominadas. É essa voz coletiva que lutamos para recuperar. Dominação e colonização tentam destruir nossa capacidade de conhecer o eu, de saber quem somos. Nos opomos a essa violação, a essa desumanização, quando buscamos a auto recuperação, quando trabalhamos para reunir os fragmentos do ser, para recuperar a nossa história. Esse processo de auto recuperação permite que nos vejamos como se fosse a primeira vez, pois nosso campo de visão não é mais configurado ou determinado somente pela condição de dominação.” (bell hooks, Educação para Liberdade, 1994).

Nossas ancestrais não se calaram, foram submetidas a um sistema de subserviência que as silenciavam, e da mesma forma gritaram tão alto a história do racismo no Brasil. No mundo, elas relatam a visão distorcida do colonizador, que nos pinta com um olhar de cima para baixo, a história contada por eles fala pouco sobre as que não abaixaram as cabeças, as que revolucionaram e seguem revolucionando esse sistema desde a base. 

Somos Anastácias livres, acreditamos que mil ditadores com suas máscaras de flandres não taparão a boca do genocídio, do estupro, da separação de mães dos seus filhos, dos assassinatos em pelourinhos e o insistente genocídio contra jovens negros nas periferias, lugar de resistência de gritos insistentes em guetos e vielas, escrevemos, recitamos, nos expressamos, nos cuidamos, pois o sistema nos colocou em lugares afastados que nos fez grito e luta.

Apesar de não sermos socializadas na base do silêncio, não significa que nossas vozes serão ouvidas, pois o homem branco é aquele que tem o direito de nascença à fala, e isso exclui os outros de sua raça, a mulher branca, a pessoa LGBTQIAP+ branca. A mulher negra, sendo a base, estará sempre excluída para o lugar do silêncio; nos silenciam quando dizem que estamos nos vitimizando quando denunciamos o racismo velado, somos caladas quando dizem que o que escrevemos não é lido como uma teoria científica, mas como um relato pessoal por aquele que ocupa o topo da cadeia alimentar, que se sente universalista.

Aquilo que produzimos parte de nossas vivências. Acredito que a mulher negra, com seu dialeto de muita história que é sempre apagada, calada, silenciada de alguma forma (através do medo de falarmos o que o homem branco não quer ouvir), pode subverter os sistemas de opressão contando sua própria história, escrevendo o vivido a partir de uma visão do dentro, estamos cansadas de ser objeto de estudos; somos o dedo na ferida dos que nos querem em silêncio, submissas.

Por muitas vezes nos sentimos silenciadas, que nossas vozes são ou não ouvidas de forma equivocada, através de mitos, através de apagamento histórico de nossas lutas, porém a oralidade fez e faz parte de uma cultura que não será esquecida em nossas vivências em nossa luta, o mito da mulher barraqueira, o mito da submissão de nossas vozes, o mito do vitimismo que percorre nossos dias, através de uma ideia dominante de apagamento das nossas dores latentes

Através da representatividade de histórias reais como se faz presente no pensamento de bell hooks, que escreveu corajosamente suas experiências pessoais em seus livros, nos faz pensar em nossas próprias histórias, de meninas e mulheres negras. A história de intelectuais como hooks nos faz ver que a história da humanidade transpassa a todo momento por nossa própria história de luta; muros foram criados para manter alguém fora, e pensadoras que derrubam esse muro, que se revoltam com a vida em que nasceram, vão de contra ao imposto, ao estabelecido, nos motiva a colocar nossa própria história pra fora dos muros que nos aprisionam.

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(

1 de out. de 2023

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E se eu pudesse respirar?

E se eu pudesse respirar? Como a escrita de mulheres negras pode promover a descolonização do pensamento?

Tamyris Soares

Por que escrevo?

Porque eu tenho de 

Porque minha voz, 

em todos seus dialetos,

tem sido calada por muito tempo.

Jacob Sam-La Rose

Mulheres negras e sua intelectualidade radicalmente coletiva deviam estar presentes respeitavelmente em todo campo da escrita. Tanto a fala ácida quanto a falácia do homem moderno nos enclausuram em um lugar sem voz. Ser mulher já nos degrada como seres humanos nessa sociedade, agora ser mulher e negra nesse sistema que nos silencia por todos os lados é devastador. 

A vida e a intelectualidade separadas, mescladas com o apagamento e a falácia histórica que nos é passada de geração em geração, nos faz acreditar que não podemos escrever a nossa própria história. O homem branco que se crê universalista coloca em pauta pesquisas científicas negras com a argumentação de que é uma história pessoal, um livro de autoajuda, ou coisas tais, como se a escrita branca não partisse de sujeito algum. Somos radicais, pois acreditamos que a raiz do sistema capitalista vem de um lugar de negação de que pessoas foram esquartejadas em pelourinhos e até hoje vemos nosso povo sendo massacrado por oficiais do Estado.

“Encontrei um lugar onde eu podia imaginar futuros possíveis, um lugar onde eu podia ser diferente. Essa experiência “vivida” de pensamento crítico, de reflexão e análise se tornou um lugar onde eu trabalhava para explicar a mágoa e fazê-la ir embora. Fundamentalmente, essa experiência me ensinou que a teoria pode ser um lugar de cura.” (bell hooks, Ensinando a transgredir,WMF, 2013). 

Quando pequena, eu tinha um mundo só meu, e dentro dele eu podia ser a protagonista, e podia fazer daquele mundo um lugar bonito, longe das violências que uma menina negra na periferia em São Paulo dos anos 1990 podia passar. A minha maior fuga da realidade cruel do gueto e da marginalidade para onde o sistema me empurrou, foi a escrita. Minha fala sempre foi questionadora. 

Luto por um lugar de liberdade de versos, de escrita, de voz. Assim como nossas ancestrais, não devemos nos calar diante das opressões que nos assombram, principalmente em um país que mascara nossas dores, com a falsa igualdade racial, que é pregada descaradamente.

A libertação da mente vem através do reconhecimento, da reimaginação de um novo mundo onde as histórias que foram ocultadas cheguem à tona, onde a brutalidade policial indiscriminada contra a comunidade negra seja cessada, o lugar onde a luta em prol da liberdade seja organizada coletivamente através da base da pirâmide capitalista que mesmo com o apagamento da história sabemos qual é. 

Nós, negras no Brasil, não temos o conhecimento das nossas reais origens. Os documentos com essas informações foram queimados em 1890, a mando de Rui Barbosa, criminoso ministro da fazenda no pós Lei Áurea. Precisamos reescrever nossa história, não deixar que eles contem a versão deles, em seus tronos de colonizadores. Nós somos nossas próprias heroínas, escritoras e contadoras de nossas histórias, sempre lembrando do passado a fim de entender o presente. A fala das não ouvidas pode ser subvertida através da literatura, das poesias de rua, do grito insistente que muitas vezes foram engolidos através da violência contra a mulher, relacionada ao racismo

“(...) Porém, são precisamente essas vozes que são silenciadas, reprimidas, quando somos dominadas. É essa voz coletiva que lutamos para recuperar. Dominação e colonização tentam destruir nossa capacidade de conhecer o eu, de saber quem somos. Nos opomos a essa violação, a essa desumanização, quando buscamos a auto recuperação, quando trabalhamos para reunir os fragmentos do ser, para recuperar a nossa história. Esse processo de auto recuperação permite que nos vejamos como se fosse a primeira vez, pois nosso campo de visão não é mais configurado ou determinado somente pela condição de dominação.” (bell hooks, Educação para Liberdade, 1994).

Nossas ancestrais não se calaram, foram submetidas a um sistema de subserviência que as silenciavam, e da mesma forma gritaram tão alto a história do racismo no Brasil. No mundo, elas relatam a visão distorcida do colonizador, que nos pinta com um olhar de cima para baixo, a história contada por eles fala pouco sobre as que não abaixaram as cabeças, as que revolucionaram e seguem revolucionando esse sistema desde a base. 

Somos Anastácias livres, acreditamos que mil ditadores com suas máscaras de flandres não taparão a boca do genocídio, do estupro, da separação de mães dos seus filhos, dos assassinatos em pelourinhos e o insistente genocídio contra jovens negros nas periferias, lugar de resistência de gritos insistentes em guetos e vielas, escrevemos, recitamos, nos expressamos, nos cuidamos, pois o sistema nos colocou em lugares afastados que nos fez grito e luta.

Apesar de não sermos socializadas na base do silêncio, não significa que nossas vozes serão ouvidas, pois o homem branco é aquele que tem o direito de nascença à fala, e isso exclui os outros de sua raça, a mulher branca, a pessoa LGBTQIAP+ branca. A mulher negra, sendo a base, estará sempre excluída para o lugar do silêncio; nos silenciam quando dizem que estamos nos vitimizando quando denunciamos o racismo velado, somos caladas quando dizem que o que escrevemos não é lido como uma teoria científica, mas como um relato pessoal por aquele que ocupa o topo da cadeia alimentar, que se sente universalista.

Aquilo que produzimos parte de nossas vivências. Acredito que a mulher negra, com seu dialeto de muita história que é sempre apagada, calada, silenciada de alguma forma (através do medo de falarmos o que o homem branco não quer ouvir), pode subverter os sistemas de opressão contando sua própria história, escrevendo o vivido a partir de uma visão do dentro, estamos cansadas de ser objeto de estudos; somos o dedo na ferida dos que nos querem em silêncio, submissas.

Por muitas vezes nos sentimos silenciadas, que nossas vozes são ou não ouvidas de forma equivocada, através de mitos, através de apagamento histórico de nossas lutas, porém a oralidade fez e faz parte de uma cultura que não será esquecida em nossas vivências em nossa luta, o mito da mulher barraqueira, o mito da submissão de nossas vozes, o mito do vitimismo que percorre nossos dias, através de uma ideia dominante de apagamento das nossas dores latentes

Através da representatividade de histórias reais como se faz presente no pensamento de bell hooks, que escreveu corajosamente suas experiências pessoais em seus livros, nos faz pensar em nossas próprias histórias, de meninas e mulheres negras. A história de intelectuais como hooks nos faz ver que a história da humanidade transpassa a todo momento por nossa própria história de luta; muros foram criados para manter alguém fora, e pensadoras que derrubam esse muro, que se revoltam com a vida em que nasceram, vão de contra ao imposto, ao estabelecido, nos motiva a colocar nossa própria história pra fora dos muros que nos aprisionam.

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