Imaginação 23

Após a pandemia e a crise política e institucional, o que é possível imaginar como nosso futuro próximo?

(Ano)

2023

(Descrição)

Festival em Parceria com o Sesc

Festival

Imaginação 23


"Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil."

Mário de Andrade em carta a Manuel Bandeira,

8 de novembro de 1924


O ano de 2022 foi marcado por acontecimentos significativos, encerrando com uma perspectiva de esperança no horizonte. Comemoraram-se o bicentenário da frágil e contraditória independência brasileira, o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 — que reinventou a arte e a imaginação sobre o Brasil —, a pandemia de Covid-19 arrefecia e os espetáculos culturais voltavam a fazer parte do cotidiano, e ocorreu uma eleição presidencial, possivelmente a mais crucial desde a redemocratização. Os resultados foram contestados pelo governo derrotado e por uma parcela da população fanatizada pelo extremismo fascista. As ameaças e tentativas de golpe pairavam no ar. Mas a esperança tinha voltado. E a imaginação? Qual o país possível depois desses tempos turbulentos?

Foi nesse contexto desafiador, repleto de diálogos históricos e políticos, que começou o processo de pesquisa-ação para a formulação da intervenção "Imaginação 23". Este trabalho envolveu estudantes e artistas em momentos de aprofundamento, investigação, formulação de hipóteses e planejamento, culminando no festival realizado em 2023.

A concepção do Festival

O festival foi concebido como um momento de abertura, onde se retomaram perspectivas de justiça social e inclusão, respeito à diversidade, e ampliação da solidariedade. Daí a importância de incentivar a construção de imaginários coletivos, especialmente após os anos de adversidades recentes. A mediação artística serviu como ferramenta para abrir novos horizontes, não para formular um "programa de governo", mas para propor uma "visão de sociedade pulsante", desejante de novas possibilidades de existência.

A Unifesp mantinha desde 2019 um Acordo de Cooperação com SESC, que deu origem a diversos projetos, entre eles o Imaginação 23, com uma proposta de integração em múltiplos níveis. O projeto envolveu extensão universitária, pesquisa, formação e processos criativos. Em 2021, o professor Pedro Arantes, da Unifesp, iniciou uma atuação no espaço da Ocupação Ouvidor, através da disciplina Lab 3 (Laboratório de Mediação e Curadoria, ver texto sobre ele nesse livro). Essa iniciativa originou o projeto de extensão Reciprocriar (também com texto neste livro), e este projeto de pesquisa financiado pela FAPESP, no âmbito do edital LinCAR, selecionado em 2022 e implementado em 2023.

A ação conjunta entre universidade e artistas da Ocupação Ouvidor e uma instituição cultural como o SESC não se limitou à realização de um evento. Fomentou um trabalho processual, com pesquisa, documentação, formulação e planejamento. O objetivo foi conceber uma realização-intervenção significativa, capaz de responder às perguntas:

  • Após a pandemia e a crise política e institucional, o que é possível imaginar como nosso futuro próximo?

  • Vivemos uma era de reconstrução e reinvenção, semelhante a um contexto de pós-guerra?

  • Qual o papel da arte e das práticas políticas e culturais na estimulação de uma imaginação coletiva sobre o futuro do país?

A colaboração entre universidade pública, ocupação artística e SESC mostrou-se promissora pelas características complementares das instituições.

  • A Unifesp contribuiu como espaço de formação, reflexão e experimentação, mesmo em tempos regressivos, marcados pelo negacionismo e pela necropolítica. A inquietação de seus estudantes impulsionou a pesquisa e a proposição de soluções criativas para os desafios contemporâneos.

  • Os artistas e coletivos da Ocupação Ouvidor 63 trouxeram a experiência de viver à margem dos circuitos institucionais e do mercado de arte, em um cotidiano marcado pela falta de recursos e pela necessidade de organização solidária. Dessa condição, extraíram uma poética radical e uma política de base, que movimentaram o centro cultural gerido por eles.

  • O SESC, convidado como parceiro, agregou visibilidade e viabilidade ao projeto, ampliando o impacto, a reflexão e o engajamento do público nas ruas do Centro de São Paulo. Nosso parceiro foi, mais especificamente, a Unidade Carmo do SESC, inaugurada em 12 de dezembro de 1960, é uma das mais antigas de São Paulo.

Os acordos entre os parceiros nem sempre foram tranquilos, a despeito do interesse de todos em realizar o evento. Originalmente a proposição envolvia oficinas preparatórias, que tiveram que ser canceladas por falta de orçamento. Elas ocorreriam ainda em 2022 como forma de “escuta das ruas”, ainda naquele momento de incertezas após a eleição presidencial. No início de 2023 o Sesc anunciou o cancelamento desta e de outras parcerias com a Unifesp, o que exigiu uma nova rodada de negociações, envolvendo também a reitoria da universidade e a direção do Sesc, que construíram novo entendimento e reataram as propostas em andamento. Mesmo com esses percalços, que exigiram redimensionamentos da proposta, infraestrutura e adiamento de datas, conseguimos executar o festival. A equipe do Sesc Carmo sempre foi parceira e colaborou em todo o processo, mesmo quando ainda havia indecisão da direção e dos recursos disponíveis.


Cartaz da programação do Festival

A realização do Festival 

O Festival Imaginação 23 ocorreu na segunda quinzena de novembro de 2023, tendo a Praça da Liberdade como espaço público principal das atividades, além das instalações do SESC Carmo, como a comedoria e a sala multiuso. Ao longo do evento, 10 ações programadas contaram com o acompanhamento de estudantes de graduação em História da Arte da Unifesp. Esses estudantes participaram em áreas como curadoria, assessoria técnica, pesquisa, audiovisual, produção, montagem e outras.

A convocação e mobilização dos artistas foi amplamente dialogada, recebendo propostas, articulando-as com o conceito e objetivos do Festival, sendo trabalhada coletivamente, sob a coordenação do artista e morador da Ouvidor 63, Bryan Meza. Ao final, mais de 60 artistas apresentaram suas produções/processos durante 3 dias de festival, integrando ao redor de  45 artistas moradores com mais 15 artistas convidadas.

O Festival foi concebido como um momento de abertura de perspectivas e imaginação coletiva sobre o Brasil. A mediação artística desempenhou papel central ao sugerir uma "visão de sociedade pulsante", capaz de romper com o ciclo de trevas que marcou os últimos anos.

O Festival Imaginação 23 não foi apenas um evento artístico, mas uma ação cultural transformadora, que promoveu reflexão, engajamento e renovação dos imaginários coletivos brasileiros. Com a união entre a universidade, artistas e o SESC, a iniciativa deixou um legado de criatividade, colaboração e compromisso com um futuro mais justo e inclusivo

Durante o processo de organização e preparação para o festival, as pessoas envolvidas no projeto tiveram experiências de criação e pesquisa coletiva não só em questões artísticas mas também no que respeita à gestão e produção cultural. Levando a consideração que uma das principais áreas de atuação das artistas de Ouvidor 63 são as artes de rua, linguagem que precisa dialogar permanente com o circuito cultural de São Paulo e que precisou de um longo período de conversas e construção coletiva para se apresentar no espaço público em parceria de instituições como o SESC. 

A programação do Festival foi mais além que o evento em si. Ela incluiu ações de preparação realizadas na Ouvidor 63 durante meses prévios, diversos encontros de integração para que fortalecer a comunidade, reuniões de coordenação divididos por grupos de trabalho e alguns eventos artísticos que apresentariam previamente as obras e atos que fariam parte de programação. Os/as artistas que participaram tiveram autonomia na organização do desenvolvimento de cada área. Foram 10 ações que incluíam a Moda Autossustentável, Circo, Música, Sarau (artes integradas), Teatro, Dança, Intervenção Urbana e Graffiti, além de duas oficinas: uma de fotografia e outra de customização de bicicletas.


Vídeo Registrado e Produzido pelo Artista Audiovisual Freddy Moncada


Apresentamos a seguir, algumas das fotografias de Amanda Souza, Sol Calderón e Igor Gerhardt das apresentações no Festival, na Praça da Liberdade e na sede do SESC Carmo. 

Imaginação 23

Após a pandemia e a crise política e institucional, o que é possível imaginar como nosso futuro próximo?

(Ano)

2023

(Descrição)

Festival em Parceria com o Sesc

Festival

Imaginação 23


"Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil."

Mário de Andrade em carta a Manuel Bandeira,

8 de novembro de 1924


O ano de 2022 foi marcado por acontecimentos significativos, encerrando com uma perspectiva de esperança no horizonte. Comemoraram-se o bicentenário da frágil e contraditória independência brasileira, o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 — que reinventou a arte e a imaginação sobre o Brasil —, a pandemia de Covid-19 arrefecia e os espetáculos culturais voltavam a fazer parte do cotidiano, e ocorreu uma eleição presidencial, possivelmente a mais crucial desde a redemocratização. Os resultados foram contestados pelo governo derrotado e por uma parcela da população fanatizada pelo extremismo fascista. As ameaças e tentativas de golpe pairavam no ar. Mas a esperança tinha voltado. E a imaginação? Qual o país possível depois desses tempos turbulentos?

Foi nesse contexto desafiador, repleto de diálogos históricos e políticos, que começou o processo de pesquisa-ação para a formulação da intervenção "Imaginação 23". Este trabalho envolveu estudantes e artistas em momentos de aprofundamento, investigação, formulação de hipóteses e planejamento, culminando no festival realizado em 2023.

A concepção do Festival

O festival foi concebido como um momento de abertura, onde se retomaram perspectivas de justiça social e inclusão, respeito à diversidade, e ampliação da solidariedade. Daí a importância de incentivar a construção de imaginários coletivos, especialmente após os anos de adversidades recentes. A mediação artística serviu como ferramenta para abrir novos horizontes, não para formular um "programa de governo", mas para propor uma "visão de sociedade pulsante", desejante de novas possibilidades de existência.

A Unifesp mantinha desde 2019 um Acordo de Cooperação com SESC, que deu origem a diversos projetos, entre eles o Imaginação 23, com uma proposta de integração em múltiplos níveis. O projeto envolveu extensão universitária, pesquisa, formação e processos criativos. Em 2021, o professor Pedro Arantes, da Unifesp, iniciou uma atuação no espaço da Ocupação Ouvidor, através da disciplina Lab 3 (Laboratório de Mediação e Curadoria, ver texto sobre ele nesse livro). Essa iniciativa originou o projeto de extensão Reciprocriar (também com texto neste livro), e este projeto de pesquisa financiado pela FAPESP, no âmbito do edital LinCAR, selecionado em 2022 e implementado em 2023.

A ação conjunta entre universidade e artistas da Ocupação Ouvidor e uma instituição cultural como o SESC não se limitou à realização de um evento. Fomentou um trabalho processual, com pesquisa, documentação, formulação e planejamento. O objetivo foi conceber uma realização-intervenção significativa, capaz de responder às perguntas:

  • Após a pandemia e a crise política e institucional, o que é possível imaginar como nosso futuro próximo?

  • Vivemos uma era de reconstrução e reinvenção, semelhante a um contexto de pós-guerra?

  • Qual o papel da arte e das práticas políticas e culturais na estimulação de uma imaginação coletiva sobre o futuro do país?

A colaboração entre universidade pública, ocupação artística e SESC mostrou-se promissora pelas características complementares das instituições.

  • A Unifesp contribuiu como espaço de formação, reflexão e experimentação, mesmo em tempos regressivos, marcados pelo negacionismo e pela necropolítica. A inquietação de seus estudantes impulsionou a pesquisa e a proposição de soluções criativas para os desafios contemporâneos.

  • Os artistas e coletivos da Ocupação Ouvidor 63 trouxeram a experiência de viver à margem dos circuitos institucionais e do mercado de arte, em um cotidiano marcado pela falta de recursos e pela necessidade de organização solidária. Dessa condição, extraíram uma poética radical e uma política de base, que movimentaram o centro cultural gerido por eles.

  • O SESC, convidado como parceiro, agregou visibilidade e viabilidade ao projeto, ampliando o impacto, a reflexão e o engajamento do público nas ruas do Centro de São Paulo. Nosso parceiro foi, mais especificamente, a Unidade Carmo do SESC, inaugurada em 12 de dezembro de 1960, é uma das mais antigas de São Paulo.

Os acordos entre os parceiros nem sempre foram tranquilos, a despeito do interesse de todos em realizar o evento. Originalmente a proposição envolvia oficinas preparatórias, que tiveram que ser canceladas por falta de orçamento. Elas ocorreriam ainda em 2022 como forma de “escuta das ruas”, ainda naquele momento de incertezas após a eleição presidencial. No início de 2023 o Sesc anunciou o cancelamento desta e de outras parcerias com a Unifesp, o que exigiu uma nova rodada de negociações, envolvendo também a reitoria da universidade e a direção do Sesc, que construíram novo entendimento e reataram as propostas em andamento. Mesmo com esses percalços, que exigiram redimensionamentos da proposta, infraestrutura e adiamento de datas, conseguimos executar o festival. A equipe do Sesc Carmo sempre foi parceira e colaborou em todo o processo, mesmo quando ainda havia indecisão da direção e dos recursos disponíveis.


Cartaz da programação do Festival

A realização do Festival 

O Festival Imaginação 23 ocorreu na segunda quinzena de novembro de 2023, tendo a Praça da Liberdade como espaço público principal das atividades, além das instalações do SESC Carmo, como a comedoria e a sala multiuso. Ao longo do evento, 10 ações programadas contaram com o acompanhamento de estudantes de graduação em História da Arte da Unifesp. Esses estudantes participaram em áreas como curadoria, assessoria técnica, pesquisa, audiovisual, produção, montagem e outras.

A convocação e mobilização dos artistas foi amplamente dialogada, recebendo propostas, articulando-as com o conceito e objetivos do Festival, sendo trabalhada coletivamente, sob a coordenação do artista e morador da Ouvidor 63, Bryan Meza. Ao final, mais de 60 artistas apresentaram suas produções/processos durante 3 dias de festival, integrando ao redor de  45 artistas moradores com mais 15 artistas convidadas.

O Festival foi concebido como um momento de abertura de perspectivas e imaginação coletiva sobre o Brasil. A mediação artística desempenhou papel central ao sugerir uma "visão de sociedade pulsante", capaz de romper com o ciclo de trevas que marcou os últimos anos.

O Festival Imaginação 23 não foi apenas um evento artístico, mas uma ação cultural transformadora, que promoveu reflexão, engajamento e renovação dos imaginários coletivos brasileiros. Com a união entre a universidade, artistas e o SESC, a iniciativa deixou um legado de criatividade, colaboração e compromisso com um futuro mais justo e inclusivo

Durante o processo de organização e preparação para o festival, as pessoas envolvidas no projeto tiveram experiências de criação e pesquisa coletiva não só em questões artísticas mas também no que respeita à gestão e produção cultural. Levando a consideração que uma das principais áreas de atuação das artistas de Ouvidor 63 são as artes de rua, linguagem que precisa dialogar permanente com o circuito cultural de São Paulo e que precisou de um longo período de conversas e construção coletiva para se apresentar no espaço público em parceria de instituições como o SESC. 

A programação do Festival foi mais além que o evento em si. Ela incluiu ações de preparação realizadas na Ouvidor 63 durante meses prévios, diversos encontros de integração para que fortalecer a comunidade, reuniões de coordenação divididos por grupos de trabalho e alguns eventos artísticos que apresentariam previamente as obras e atos que fariam parte de programação. Os/as artistas que participaram tiveram autonomia na organização do desenvolvimento de cada área. Foram 10 ações que incluíam a Moda Autossustentável, Circo, Música, Sarau (artes integradas), Teatro, Dança, Intervenção Urbana e Graffiti, além de duas oficinas: uma de fotografia e outra de customização de bicicletas.


Vídeo Registrado e Produzido pelo Artista Audiovisual Freddy Moncada


Apresentamos a seguir, algumas das fotografias de Amanda Souza, Sol Calderón e Igor Gerhardt das apresentações no Festival, na Praça da Liberdade e na sede do SESC Carmo. 

Imaginação 23

Após a pandemia e a crise política e institucional, o que é possível imaginar como nosso futuro próximo?

(Ano)

2023

(Descrição)

Festival em Parceria com o Sesc

Festival

Imaginação 23


"Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil."

Mário de Andrade em carta a Manuel Bandeira,

8 de novembro de 1924


O ano de 2022 foi marcado por acontecimentos significativos, encerrando com uma perspectiva de esperança no horizonte. Comemoraram-se o bicentenário da frágil e contraditória independência brasileira, o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 — que reinventou a arte e a imaginação sobre o Brasil —, a pandemia de Covid-19 arrefecia e os espetáculos culturais voltavam a fazer parte do cotidiano, e ocorreu uma eleição presidencial, possivelmente a mais crucial desde a redemocratização. Os resultados foram contestados pelo governo derrotado e por uma parcela da população fanatizada pelo extremismo fascista. As ameaças e tentativas de golpe pairavam no ar. Mas a esperança tinha voltado. E a imaginação? Qual o país possível depois desses tempos turbulentos?

Foi nesse contexto desafiador, repleto de diálogos históricos e políticos, que começou o processo de pesquisa-ação para a formulação da intervenção "Imaginação 23". Este trabalho envolveu estudantes e artistas em momentos de aprofundamento, investigação, formulação de hipóteses e planejamento, culminando no festival realizado em 2023.

A concepção do Festival

O festival foi concebido como um momento de abertura, onde se retomaram perspectivas de justiça social e inclusão, respeito à diversidade, e ampliação da solidariedade. Daí a importância de incentivar a construção de imaginários coletivos, especialmente após os anos de adversidades recentes. A mediação artística serviu como ferramenta para abrir novos horizontes, não para formular um "programa de governo", mas para propor uma "visão de sociedade pulsante", desejante de novas possibilidades de existência.

A Unifesp mantinha desde 2019 um Acordo de Cooperação com SESC, que deu origem a diversos projetos, entre eles o Imaginação 23, com uma proposta de integração em múltiplos níveis. O projeto envolveu extensão universitária, pesquisa, formação e processos criativos. Em 2021, o professor Pedro Arantes, da Unifesp, iniciou uma atuação no espaço da Ocupação Ouvidor, através da disciplina Lab 3 (Laboratório de Mediação e Curadoria, ver texto sobre ele nesse livro). Essa iniciativa originou o projeto de extensão Reciprocriar (também com texto neste livro), e este projeto de pesquisa financiado pela FAPESP, no âmbito do edital LinCAR, selecionado em 2022 e implementado em 2023.

A ação conjunta entre universidade e artistas da Ocupação Ouvidor e uma instituição cultural como o SESC não se limitou à realização de um evento. Fomentou um trabalho processual, com pesquisa, documentação, formulação e planejamento. O objetivo foi conceber uma realização-intervenção significativa, capaz de responder às perguntas:

  • Após a pandemia e a crise política e institucional, o que é possível imaginar como nosso futuro próximo?

  • Vivemos uma era de reconstrução e reinvenção, semelhante a um contexto de pós-guerra?

  • Qual o papel da arte e das práticas políticas e culturais na estimulação de uma imaginação coletiva sobre o futuro do país?

A colaboração entre universidade pública, ocupação artística e SESC mostrou-se promissora pelas características complementares das instituições.

  • A Unifesp contribuiu como espaço de formação, reflexão e experimentação, mesmo em tempos regressivos, marcados pelo negacionismo e pela necropolítica. A inquietação de seus estudantes impulsionou a pesquisa e a proposição de soluções criativas para os desafios contemporâneos.

  • Os artistas e coletivos da Ocupação Ouvidor 63 trouxeram a experiência de viver à margem dos circuitos institucionais e do mercado de arte, em um cotidiano marcado pela falta de recursos e pela necessidade de organização solidária. Dessa condição, extraíram uma poética radical e uma política de base, que movimentaram o centro cultural gerido por eles.

  • O SESC, convidado como parceiro, agregou visibilidade e viabilidade ao projeto, ampliando o impacto, a reflexão e o engajamento do público nas ruas do Centro de São Paulo. Nosso parceiro foi, mais especificamente, a Unidade Carmo do SESC, inaugurada em 12 de dezembro de 1960, é uma das mais antigas de São Paulo.

Os acordos entre os parceiros nem sempre foram tranquilos, a despeito do interesse de todos em realizar o evento. Originalmente a proposição envolvia oficinas preparatórias, que tiveram que ser canceladas por falta de orçamento. Elas ocorreriam ainda em 2022 como forma de “escuta das ruas”, ainda naquele momento de incertezas após a eleição presidencial. No início de 2023 o Sesc anunciou o cancelamento desta e de outras parcerias com a Unifesp, o que exigiu uma nova rodada de negociações, envolvendo também a reitoria da universidade e a direção do Sesc, que construíram novo entendimento e reataram as propostas em andamento. Mesmo com esses percalços, que exigiram redimensionamentos da proposta, infraestrutura e adiamento de datas, conseguimos executar o festival. A equipe do Sesc Carmo sempre foi parceira e colaborou em todo o processo, mesmo quando ainda havia indecisão da direção e dos recursos disponíveis.


Cartaz da programação do Festival

A realização do Festival 

O Festival Imaginação 23 ocorreu na segunda quinzena de novembro de 2023, tendo a Praça da Liberdade como espaço público principal das atividades, além das instalações do SESC Carmo, como a comedoria e a sala multiuso. Ao longo do evento, 10 ações programadas contaram com o acompanhamento de estudantes de graduação em História da Arte da Unifesp. Esses estudantes participaram em áreas como curadoria, assessoria técnica, pesquisa, audiovisual, produção, montagem e outras.

A convocação e mobilização dos artistas foi amplamente dialogada, recebendo propostas, articulando-as com o conceito e objetivos do Festival, sendo trabalhada coletivamente, sob a coordenação do artista e morador da Ouvidor 63, Bryan Meza. Ao final, mais de 60 artistas apresentaram suas produções/processos durante 3 dias de festival, integrando ao redor de  45 artistas moradores com mais 15 artistas convidadas.

O Festival foi concebido como um momento de abertura de perspectivas e imaginação coletiva sobre o Brasil. A mediação artística desempenhou papel central ao sugerir uma "visão de sociedade pulsante", capaz de romper com o ciclo de trevas que marcou os últimos anos.

O Festival Imaginação 23 não foi apenas um evento artístico, mas uma ação cultural transformadora, que promoveu reflexão, engajamento e renovação dos imaginários coletivos brasileiros. Com a união entre a universidade, artistas e o SESC, a iniciativa deixou um legado de criatividade, colaboração e compromisso com um futuro mais justo e inclusivo

Durante o processo de organização e preparação para o festival, as pessoas envolvidas no projeto tiveram experiências de criação e pesquisa coletiva não só em questões artísticas mas também no que respeita à gestão e produção cultural. Levando a consideração que uma das principais áreas de atuação das artistas de Ouvidor 63 são as artes de rua, linguagem que precisa dialogar permanente com o circuito cultural de São Paulo e que precisou de um longo período de conversas e construção coletiva para se apresentar no espaço público em parceria de instituições como o SESC. 

A programação do Festival foi mais além que o evento em si. Ela incluiu ações de preparação realizadas na Ouvidor 63 durante meses prévios, diversos encontros de integração para que fortalecer a comunidade, reuniões de coordenação divididos por grupos de trabalho e alguns eventos artísticos que apresentariam previamente as obras e atos que fariam parte de programação. Os/as artistas que participaram tiveram autonomia na organização do desenvolvimento de cada área. Foram 10 ações que incluíam a Moda Autossustentável, Circo, Música, Sarau (artes integradas), Teatro, Dança, Intervenção Urbana e Graffiti, além de duas oficinas: uma de fotografia e outra de customização de bicicletas.


Vídeo Registrado e Produzido pelo Artista Audiovisual Freddy Moncada


Apresentamos a seguir, algumas das fotografias de Amanda Souza, Sol Calderón e Igor Gerhardt das apresentações no Festival, na Praça da Liberdade e na sede do SESC Carmo.